Da resolução "Contra o continuísmo e o pacto social. Por uma alternativa democrática e popular", aprovada no Encontro Nacional Extraordinário do PT de 1985.
Após três anos de violenta recessão, orientada e comandada pelo Fundo Monetário Internacional, a economia do País dá mostras de leve recuperação, impulsionada pelo crescimento relativo da agricultura, da produção industrial e, sobretudo, das exportações. A expansão positiva do Produto Interno Bruto (PIB),contudo, não é, por si só, suficiente para sustentar uma retomada mais permanente, nem tampouco para reverter a profunda onda de desemprego, de miséria e de crise social provocada por uma política econômica monetarista e a serviço do grande capital.
Os dados e as projeções disponíveis indicam que os níveis de emprego existentes em 1980 só serão recuperados por volta de 1990, assim mesmo se o País crescer, até lá, a taxas de pelo menos 6% ao ano. Isto sem considerar o ingresso de novos trabalhadores no mercado e sem levar em conta os investimentos em automação, realizados no setor industrial. Ao mesmo tempo, uma recomposição dos níveis de salário existentes até 1980 exige aumentos reais sucessivos. Isto porque, por força da política de arrocho que vem sendo imposta, houve, nos últimos dois anos, uma redução de 40% nas folhas de salários das empresas, em relação ao INPC.
Do ponto de vista da administração da dívida – que praticamente condiciona a administração da política econômica – a situação é igualmente dramática: num período de quatro anos, a menos que se estabeleça algum tipo de renegociação, o País terá de amortizar 52% da dívida, que hoje supera os cem bilhões de dólares. Basta ver, por exemplo, que o surpreendente saldo comercial de 12 bilhões de dólares, obtido este ano, serviu apenas para pagar os juros da dívida em 1984.
Diante desse quadro, a expectativa de uma inflação gigantesca, nunca vista em nossa história, agrava o cenário de arrocho e desemprego a que estão expostos os trabalhadores: 4 milhões de desempregados e 17 milhões de pessoas sem meios conhecidos de sobrevivência.
A crise social também se revela no aumento dos índices de analfabetismo, na desnutrição, na elevação dos índices de criminalidade, na falência do sistema habitacional e previdenciário. E, a continuar o atual esquema de administração da dívida pública interna, que já representa praticamente 20% do PIB, as condições de vida da população tendem a se deteriorar ainda mais.
É neste contexto que deve ser analisada a proposta de pacto social apresentada por Tancredo Neves. Ao que tudo indica, o pedido de trégua por seis ou nove meses, feito por Tancredo, inspira-se na política de seu velho benfeitor, Getúlio Vargas: o pacto social é nada mais nada menos que a reedição da política de apertar os cintos. Em nome da consolidação de seu governo e de sua política, a Aliança Democrática quer dos trabalhadores um cheque em branco, um crédito de confiança, muito embora não se descarte de imediato a possibilidade de alguma concessão, que, na essência, será mero paliativo, não podendo constituir elemento de barganha para os trabalhadores.
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