Primeira parte da resolução Teses Para a Atuação do PT, aprovada no 3º Encontro Nacional do PT (1984)
A situação política atual do País exige do PT uma resposta partidária que se materialize, imediatamente, num programa de ação e numa direção política capaz de contribuir para a organização e para a luta dos trabalhadores.
A situação política atual do País exige do PT uma resposta partidária que se materialize, imediatamente, num programa de ação e numa direção política capaz de contribuir para a organização e para a luta dos trabalhadores.
Depois de ter enfrentado uma série de dificuldades diante dos resultados das eleições de 1982, entre as quais o desânimo dos militantes, que esperavam mais de nosso desempenho nas urnas, o PT começa agora a transformar-se num importante pólo de referência política da população brasileira, especialmente dos trabalhadores.
Isso é decorrência do firme posicionamento assumido por nosso partido nos vários momentos de luta contra a política econômica do governo e contra as tentativas de encaminhamento da sucessão presidencial em termos de continuidade do atual Regime Militar, que, ao completar os seus 20 anos, já não é mais tolerado pela grande maioria da população.
Nós não somos a única força oposicionista do País, mas assumimos um papel decisivo na conquista das eleições livres e diretas. Assim, nos constituímos num dos principais fatores impulsionadores do movimento de massas que luta contra o ilegítimo Colégio Eleitoral, vinculando o desejo da maioria da população de eleger diretamente seus governantes ao combate contra o Regime Militar.
Com isso, recuperamos a nossa imagem enquanto partido que articula a participação política dos dominados, não apenas saindo do relativo isolamento em que nossos adversários tentaram nos confinar, durante e após as eleições de 82, como consolidando ainda mais a nossa presença partidária e a de nossos principais dirigentes.
No entanto, importa reconhecer, também, que ainda nos defrontamos com uma série de dificuldades para nos consolidarmos como partido dos trabalhadores em âmbito nacional. Entre tais dificuldades, enumeramos, ainda que a título inicial e precário, as seguintes:
1. Nem sempre temos sabido traduzir o objetivo de organizar politicamente os trabalhadores em propostas concretas, isto é, num projeto alternativo para a sociedade, capaz de, aproveitando-se do imenso potencial existente no movimento de massas para o nosso crescimento, ser assimilado pelo conjunto dos trabalhadores da cidade e do campo. O PT está quase sempre presente nos movimentos sociais, por meio de seus militantes e de suas idéias, mas, freqüentemente, não tem sido possível combinar essa presença com a implementação de propostas que impulsionem ainda mais as lutas populares e aprofundem os objetivos políticos dos trabalhadores e do Partido;
2. Também é inegável que, ultimamente, a imagem do PT cresceu enormemente. No entanto, raramente conseguimos transformar esse imenso potencial de apoio em força orgânica, que se traduza em crescimento, em número e qualidade, de filiados, núcleos e Diretórios. Dentro do PT ainda vigora um grande fosso a separar os militantes, os filiados e os simpatizantes, como se tivéssemos, entre nós, petistas de 1ª, 2ª e 3ª categorias. Isso corresponde a uma grave distorção de nossa proposta como partido de massas. E decorre diretamente do fato de que, muitas vezes, ao invés de nos apresentarmos com as portas abertas a todos quantos queiram organizar-se politicamente num projeto autônomo, só conseguimos passar a imagem de um partido fechado em si mesmo, onde vigoram discussões estéreis, excessivamente ideologizadas, acessíveis apenas a intelectuais tradicionais ou membros de organizações de esquerda;
3. As dificuldades aumentam quando nos confinamos numa prática internista, que se apóia numa estrutura de organização que é, em grande parte, resultado da adaptação de antigas tradições da esquerda à legislação ditatorial sobre partidos políticos. Isso conduz numerosos núcleos e Diretórios a se transformarem em meros locais de reuniões, muitas vezes inúteis, que jamais propiciam a oportunidade de um encontro entre trabalhadores com diferentes experiências de vida e de cultura. Assim, no lugar de serem instâncias nas quais o Partido discuta sua atuação nos movimentos sociais e nas lutas dos trabalhadores, os núcleos e Diretórios terminaram por se transformar em instâncias burocráticas e fechadas, que em nada contribuem para o avanço do PT;
4. Até o momento, não temos uma política nacional de crescimento e construção partidária que vá além das tarefas de legalização, por mais indispensáveis que estas sejam. Pela quase completa falta de recursos materiais, e pelas dificuldades de mobilização de recursos humanos, não temos estabelecido prioridades nacionais que permitam pôr em prática a regionalização do Partido. Não podemos ter a crença ingênua de que é possível falar uma mesma e só linguagem em São Paulo, no ABC e no norte do País. Muito embora nossos objetivos sejam nacionais, não podemos querer que se tornem homogêneas e inteiramente iguais experiências dos trabalhadores que são diferentes nos quatro cantos do País. A realidade não é homogênea e igual, e temos de aprender a vê-la e a entendê-la;
5. Na maioria dos estados, é débil a nossa presença organizada nos movimentos sociais. Em algumas regiões, quer pelas características de seu desenvolvimento econômico e social, quer pelo peso conservador da sociedade, praticamente não existe movimento sindical ou qualquer outro movimento popular. No entanto, a miséria e o sofrimento são enormes, como o atesta, muitas vezes, a vida de nossos próprios militantes. Daí que, em algumas regiões ou cidades, a presença do PT seja apenas mera referência nominal. Em outros casos, onde o movimento popular e sindical é dinâmico e o PT tem base social, mas não tem políticas claras, ou tem uma prática equivocada ou não adaptada à realidade, o PT adquire uma imagem que afugenta potenciais filiados e até mesmo faz perder militantes ativos, dificultando o crescimento partidário.
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Observação: somente um membro deste blog pode postar um comentário.